terça-feira, 13 de novembro de 2012

Disfarçados pela tecnologia

    Vivemos em tempos muito próximos ao ambiente de "Minority Report". Pra quem não conhece o filme, eu recomendo. Pelo menos pra se situar com relação ao que pretendo discorrer. Passamos grande parte de nosso tempo em frente a telas que são verdadeiros papéis virtuais, e nos trazem informações de todos os tipos possíveis e imaginários. Nos movimentamos por ícones e representações de maneira que parece ser mais natural do que andar de bicicleta. Afinal é complicado mesmo imaginar que alguém pode se equilibrar em apenas dois pontos e se manter assim... Mas não é esse o tema do texto.
    Quando nos concentramos nas nossas telas de papel virtual a tendência é que esqueçamos por completo o ambiente que nos cerca, o que acontece com a maioria das pessoas, e passemos a interagir somente através do mundo virtual. Afinal ele é interativo, bonito, colorido e cheio de amigos o tempo todo. Ledo engano. Aqueles não são nossos amigos, mas sim representações iconográficas deles. Ah, mas os ícones são bonitinhos, diria alguém. Bonitinhos mas ordinários.
    Calma, ainda pretendo me fazer entender. Ainda pretendo me entender também. Enquanto representações, o que encontramos ali é apenas o que as pessoas querem que vejamos delas. Ninguém online é feio ou politicamente incorreto, e coitado de quem se arrisca a tal. Aliás, coitado de quem se arrisca a expor qualquer traço de sinceridade explícita na rede. As redes sociais, em especial o LivroCara, tem como característica principal a capacidade espantosa de ampliar a capacidade das pessoas serem cretinas, idiotas e cruéis. Aliás, não existe nada pior do que um idiota que se expressa e tem público. Democratizando o acesso a quem é incapaz de ler mesmo sendo alfabetizado, e que não consegue se expressar por escrito através de palavras inteiras, tem-se um universo onde qualquer declaração diferenciada pode se tornar vítima de agressão de seus pares e até mesmo de desconhecidos, ou ainda coisa pior. 
    A atual geração, fruto de escolas superficiais, famílias desinteressadas e muita tecnologia a serviço do ficar à toa, se tornou extremamente iconográfica e absolutamente incapaz e desinteressada de descobrir o significado real do que se lê, criticando com fervor exagerado tudo aquilo que não é capaz de entender, o que está fora de seu curto círculo de conhecimento. Ou que não vem com um desenho pra facilitar. Como estamos nos rendendo ao Big Brother capitaneado por Mark Zukerberg com seu Facebook, na verdadeira acepção do termo criado por George Orwell em "1984", e por conta própria prestando contas de tudo que fazemos a quem deve e a quem não deve, estamos também nos tornando vítimas desse movimento todo do qual estou tentando escapar agora.
    Com que inocência eu li 1984. Com que inocência eu vi Minority Report. Com que inocência e até mesmo entusiasmo eu vi tudo isso começar a acontecer. Primeiro um site de buscas que sabe demais a meu respeito. Depois outro de relacionamentos onde informo de bom grado tudo que o de buscas não conseguiu descobrir. E isso é só o começo. Vejamos onde isso vai parar. Se é que vai parar.