segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Uma ode aos amigos e aos cozinheiros



                Não confio em cozinheiros magros. Não tenho amigos que não sejam loucos. Sigo à risca estes conselhos. E consegui reunir ambos na mesma pessoa, cozinheira grande, grande cozinheira, amiga de primeira linha. Dessas de aparecer na sua casa no meio da madrugada, pipocando bombinhas e foguetes, à despeito do sono alheio. Do tipo que faz festa sem motivo, presenteia por prazer, sacaneia com vontade, ri desregradamente. Que pede socorro, que chora, que abre sua casa e sua vida para aqueles que lhe são benquistos. Que faz pratos maravilhosos, daqueles de se comer até empanturrar. Cozinheiros magros, vira e mexe, nos empurram pratos muito delicados, de se comer à boca pequena e com porções francesamente medidas. Desconfio que são assim também com sua amizade. Não é este o caso.
                Dizem que amigo de verdade te sacaneia só pra rir da sua cara enquanto você se lasca. Em compensação, em caso de briga já chega dando voadora. Tá na hora de dar uma voadora por aí. Só um minuto que vou procurar minhas asas.

Paparazzi do imaginário



                Tenho estado há dias sem escrever, apesar da coceirinha constante na ponta dos dedos. Idéias fugidias aparecem sorrindo só pra desaparecerem quando lhes olho no olho. Brincam de pique-esconde comigo. Mas não há de que, sou teimoso, sou cabeçudo e sou filho de papai lá em casa. Futucando escritos de um poeta bem conhecido, li que “escrever é exercício de sanidade”. Concordo, já discordando. E teimando. Pois escrevo justamente para dar vazão à minha loucura. Só assim libero o pensamento para correr por aí, feito um João Doido gritando atrás das crianças, pelas ruas da pequena e velha cidade. Só assim me torno aquele que gostaria de ser, livre de amarras e convenções. Que se lasquem as idéias fugidias, pois que continuem brincando comigo. De minha parte vou me armando de câmera imaginária e narrando os instantâneos e flagras que consigo capturar. E correndo pelas ruas, gritando atrás dos sorrisos das idéias imaginárias, joão doido que sou.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Coisas que me ocorreram enquanto pensava na vida



Andei pensando sobre poesia, ou melhor, sobre as fontes e esconderijos da poesia. Não sou homem de versos, sou de prosa, mas ela me afeta profundamente. Minhas reflexões me levaram a crer que a poesia não se esconde nos versos, com métrica e rima, ou ainda sem elas. Não está nos textos de Camões, Pessoa ou Vinícius. Como coisa simples que é, a poesia está simplesmente nas coisas ao nosso redor. Na flor que desabrocha só pra colorir o jardim e morrer em seguida. No menino que brinca despreocupado na goiabeira. No carroceiro que coleta sucata no lixo alheio, e dele leva sustento à família. No mar que inspira poetas, sustenta pescadores e marinheiros. Nos olhos da mulher amada. Nas belezas e, acredite, nas mazelas do nosso mundo. Pois nem tudo que nos cerca é belo, mas tudo é dotado de poesia.
Eu diria que a poesia está na essência de tudo que nos cerca, tal como nossa Matrix compondo cada elemento em nosso mundo. Só o que é necessário é ter a pureza nos olhos e na alma, ver a vida como uma criança. Pois as crianças não imaginam os cenários de suas brincadeiras, apenas brincam com o mundo exatamente como ele é. Poético. Fantástico. Pena que perdemos essa capacidade aos poucos enquanto crescemos. Alguns poucos, chamados poetas, conseguem manter a pureza no olhar e traduzir esse mundo em palavras.