terça-feira, 13 de novembro de 2012

Disfarçados pela tecnologia

    Vivemos em tempos muito próximos ao ambiente de "Minority Report". Pra quem não conhece o filme, eu recomendo. Pelo menos pra se situar com relação ao que pretendo discorrer. Passamos grande parte de nosso tempo em frente a telas que são verdadeiros papéis virtuais, e nos trazem informações de todos os tipos possíveis e imaginários. Nos movimentamos por ícones e representações de maneira que parece ser mais natural do que andar de bicicleta. Afinal é complicado mesmo imaginar que alguém pode se equilibrar em apenas dois pontos e se manter assim... Mas não é esse o tema do texto.
    Quando nos concentramos nas nossas telas de papel virtual a tendência é que esqueçamos por completo o ambiente que nos cerca, o que acontece com a maioria das pessoas, e passemos a interagir somente através do mundo virtual. Afinal ele é interativo, bonito, colorido e cheio de amigos o tempo todo. Ledo engano. Aqueles não são nossos amigos, mas sim representações iconográficas deles. Ah, mas os ícones são bonitinhos, diria alguém. Bonitinhos mas ordinários.
    Calma, ainda pretendo me fazer entender. Ainda pretendo me entender também. Enquanto representações, o que encontramos ali é apenas o que as pessoas querem que vejamos delas. Ninguém online é feio ou politicamente incorreto, e coitado de quem se arrisca a tal. Aliás, coitado de quem se arrisca a expor qualquer traço de sinceridade explícita na rede. As redes sociais, em especial o LivroCara, tem como característica principal a capacidade espantosa de ampliar a capacidade das pessoas serem cretinas, idiotas e cruéis. Aliás, não existe nada pior do que um idiota que se expressa e tem público. Democratizando o acesso a quem é incapaz de ler mesmo sendo alfabetizado, e que não consegue se expressar por escrito através de palavras inteiras, tem-se um universo onde qualquer declaração diferenciada pode se tornar vítima de agressão de seus pares e até mesmo de desconhecidos, ou ainda coisa pior. 
    A atual geração, fruto de escolas superficiais, famílias desinteressadas e muita tecnologia a serviço do ficar à toa, se tornou extremamente iconográfica e absolutamente incapaz e desinteressada de descobrir o significado real do que se lê, criticando com fervor exagerado tudo aquilo que não é capaz de entender, o que está fora de seu curto círculo de conhecimento. Ou que não vem com um desenho pra facilitar. Como estamos nos rendendo ao Big Brother capitaneado por Mark Zukerberg com seu Facebook, na verdadeira acepção do termo criado por George Orwell em "1984", e por conta própria prestando contas de tudo que fazemos a quem deve e a quem não deve, estamos também nos tornando vítimas desse movimento todo do qual estou tentando escapar agora.
    Com que inocência eu li 1984. Com que inocência eu vi Minority Report. Com que inocência e até mesmo entusiasmo eu vi tudo isso começar a acontecer. Primeiro um site de buscas que sabe demais a meu respeito. Depois outro de relacionamentos onde informo de bom grado tudo que o de buscas não conseguiu descobrir. E isso é só o começo. Vejamos onde isso vai parar. Se é que vai parar.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Dos minêro e das mineridade

    O sujeito sê minêro num é um causo de nascença, que nem o povo fala por aí. É muito mais um causo de charme que só nóis minêro sabemo tê, e que num é uma coisa das que se aprende, não. Afinar é só nóis que temo esse jeitin bunito de falá, que parece que nóis é tudo caipira e num dexa percebê que nóis é istudado. Pruque nóis minêro num gostamo de plural, ocê já deve de tê notado. Plural é trem muito dos bão só nos pronome. Nos substantivo e nos adjetivo num carece de pô plural não, que aí já fica seno disperdício de S. Otra coisa que nóis minêro gostamo de economizá nas palavra é o D dos gerúndio. Trem mais besta esse negócio, pois se até escreveno dá pra economizá o tal do danado. E nóis dispensa ele falano, escreveno e até pensano. Trem de doido esse negócio, uai.
    Aliás tem uns mito sobre o jeito dos minêro falá que é bão que nóis disbancá de uma veiz. Por exemplo, dizem que nóis termina as frase tudo com uai! Mas que mentira mais dislavada, sô. Nóis usa também o sô, uai. Os paulista fica tudo tentando imitá o uai nosso, mas num é só saí por aí botano uai nas frase que vai fazê ocê falá bunito que nem nóis. Tem o resto todo que já expliquei, tem que tirá o r dos final dos verbo, e mais um monte de coisa.
    Mas o trem bão mesmo de sê minêro assim que nem eu é sabé que cê pode falá, falá e falá, mas consegue se intendê só com umas pouca palavra. E que pra todos os momento vai tê café fresco, queijo, broa de fubá, pão de queijo e frango com quiabo. Isso sem falá no feijão tropêro e na côve cortada bem fininha, tudo com uma talagada da pinga da roça pra abri o apetite.
    Pra incurtá o assunto, minêro tem certeza que Beozonte é um dos milhor lugar do mundo, só perdeno pro Ridijanero e pra Guarapari, mesmo assim purque esses dois tem praia. Com vantagem pra Guarapari, que alem de praia também tem muito minêro, aí nóis se sente mais a vontade.

sábado, 13 de outubro de 2012

Conversa fiada a respeito do clima

Ao sol se segue o calor, depois o vento e a chuva para então um dia frio seguido novamente pelo sol e um pouco de calor. O clima parece nos lembrar que se não mais inverno, ainda não verão. Simplesmente primavera, com todos os seus achaques de indecisão. Simplesmente linda, como toda primavera (e toda prima Vera) deve ser.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Divagações sobre estresses e cervejas



    O melhor remédio pra tirar o estresse é cerveja. Final do dia, o sujeito chega em casa cansado, suado e desanimado. Nesse momento o ato de saborear uma geladinha sossegado resolve grande parte de seus problemas ou pelo menos faz com que eles esperem do lado de fora da porta por um tempo. Ajuda também fazendo com que algumas tarefas domésticas como lavar louça e fazer faxina fiquem mais prazerosas e de menor duração. Verdade seja dita, a não moderação pode causar também uma queda na qualidade destes serviços. Problema menor se comparado aos benefícios.
    Pois bem, precisando eliminar este estresse de final de dia e de semana, fui fazer uma visita ao supermercado. Comprinhas bobas, nada de graúdo. Só umas coisas que estavam faltando na despensa e na geladeira, entre elas a dita cerveja. Ao ver os preços fiquei ainda mais estressado. Meu salário sofreu (sofrer é o melhor adjetivo pra isso...) reajuste de 6% este ano, já os preços do supermercado tiveram aumento bem maior no último mês. Fica difícil acompanhar desse jeito. Quando vi o preço da cerveja quase caí de costas. Não pago esse preço nem bêbado, pensei. Gôndola vai, carrinho vem, acabei pegando uma Stela de uma geladeira e abri ali mesmo, afinal de contas a situação já estava ficando crítica. Pouco depois mais uma. Não fiquei bêbado, acho, mas acabei comprando uma caixa. Não de Stela, que é cara pra caramba. De outra de gosto e preço palatáveis.
    Vou propor ao governo a criação de mais uma "bolsa" para os planos sociais. Já existe bolsa família, vale gás, bolsa um monte de coisa, então que se cria a bolsa cerveja. E como o estresse, doença moderna e de difícil diagnóstico, é um dos males que abalam a saúde pública e causam despesas aos SUS e à Previdência, nada como uma bolsa ou vale cerveja para ajudar aos necessitados, de maneira preventiva. Pelo menos essa o pessoal não precisaria trocar por cachaça...
    Brincadeiras à parte, pra gente que como eu mora no litoral, a pré temporada de verão começa um suplício de ir às compras. Supermercados cheios, preços galopantes e uma completa falta de respeito ao consumidor. Os turistas ainda nem apareceram direito e as remarcações já começaram. Não quero nem ver quando dezembro chegar e o trânsito parar no caminho pra Porto Belo e Bombinhas. Não dá nem pra se estressar mais com isso...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Comentários mal humorados a respeito da civilidade ou sobre a falta dela

    Ai que saudades do funk, que os pseudo playboys passavam tocando no chevete no último volume. Nunca imaginei que algum dia eu diria isso, mas é a expressão da mais pura verdade. Porque em tempos de eleições só o que se ouve são os malditos carros a cada três minutos apregoando "vote no 13", "vote no 15", "vote no 24". É isso mesmo, as malditas musiquinhas das candidaturas. Porque nos últimos dias o pessoal desistiu até mesmo de falar o nome dos concorrentes, o negócio é fazer lavagem cerebral no pobre do eleitor e fixar um número na sua cabeça. E o pior é que chato gruda. Vira e mexe eu me pego cantarolando uma musiquinha dessas.
    Quando começou já era incômodo. Um vizinho ligou o som do carro na garagem e botou a propaganda de uma candidata qualquer a vereança daqui da cidade e deixou a manhã toda tocando aquela coisa. Comecei a achar bacana a música gospel que ele ouvia antes, nas mesmas circunstâncias. Michel Teló, pagode, funk, gospel e todos os estilos que nunca gostei, mas sempre tolerei sem reclamar, viraram musiquinha de ninar. O respeito ao ouvido alheio e ao sossego são coisa do passado. O pessoal não abaixa o volume nem mesmo na frente do hospital, e eu trabalho praticamente em frente a ele.
    Não que tenha nada contra algum destes gêneros musicais que citei acima, ou a qualquer outro. Só não gosto mesmo e isso é bastante pessoal. O problema vai mais por outro lado. Por aqui, quando o sujeito vai pra praia ou coisa que o valha e põe música um pouco alta no carro está sujeito a levar multa. Outro dia um vizinho da minha sogra chamou a polícia porque, numa festa de aniversário de duas crianças tinha música alta. A sogra passa a vida inteira sem fazer barulho em casa, o dia que faz festa pras netas aparece um sujeitinho qualquer que não vou qualificar nem desqualificar, e acha ruim do barulho. Mas aí a gente tem que aguentar esses partidos sujos com seus candidatos desclassificados em todos os sentidos pra vir incomodar, e não tem polícia que nos proteja. Pelo contrário, eles protegem o carro de som do cara. Se eu ligar o som do meu carro na rua e ficar curtindo com meus amigos eles vão aparecer pra criar caso.
    Vivemos numa terra de ninguém, onde o povo merece o governo que tem. O pior de tudo é que seremos governados por um desses aí. Não tem opção. Votar nulo não resolve a situação, simplesmente não tem saída. O jeito é ir no oncologista e pegar remédio pra acabar com chato.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Recursos para a felicidade


Hoje eu estive pensando na felicidade e no quanto ela nos passa desapercebida. No meio de uma conversa me toquei de como esperamos sempre alguma coisa a mais na vida para sermos felizes. As pessoas sempre acham que é preciso ganhar mais dinheiro, ter um carro bonito e novo, uma casa bacana, um relacionamento maravilhoso e isento de problemas para ser feliz. Pouca gente se toca de que a felicidade sempre é possível com o que se tem.
Fui então questionado sobre acomodação. Alegou-se que o que eu estava pregando é que devemos nos conformar com o que temos e não buscar mais na vida. A ambição, desde que comedida, é vital na nossa vida e nos faz progredir. Faz o mundo girar. Mas como o comedimento é qualidade de poucos, o resultado é um mundo onde se tem cada vez mais e se aproveita cada vez menos. Aproveitar de maneira produtiva e saudável pro espírito. Aproveitar de modo a viver plenamente. Resumindo, ser feliz com o que se tem, mesmo que seja pouco.
Conheci na vida algumas pessoas que simplesmente se negavam à felicidade porque o dinheiro era pouco, porque havia contas em atraso, porque não sobrava pra fazer aquela viagem ou comprar aquela roupa. Mas continuava fazendo gastos desnecessários e absurdos e se endividando. E ficando mais infeliz, porque cada dia tinha menos recursos, apesar dos bens disponíveis em casa.
O mundo moderno nos faz acreditar nessas falácias. Sempre fez. Na idade média, como agora, os senhores feudais e os reis tinham dinheiro de sobra. Mas havia pouco com que gastar esse dinheiro. Vivia-se em castelos ou em casebres, mas ambos eram gelados. Sou capaz de apostar que o camponês do casebre vivia mais feliz na sua humildade, com sua família cansada mas unida.
Não quero de forma alguma pregar a acomodação e a preguiça como modo de vida. O acomodado não garante por si só uma vida satisfatória. O que tento dizer é que é sim possível ser feliz com pouco. É possível ser feliz com o que se tem, sem desistir de algo mais. Basta não fazer das metas financeiras um modo de vida, e aproveitar o que a vida nos dá de bandeja. O sol é grátis pra todo mundo. A chuva também é, só que bem mais rara.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Árvores, quintais e conjuntivites

      Graças a uma conjuntivite estou sendo obrigado a passar uma semana em casa acompanhando meu filho, o pequeno grande João. Uma doença besta, que faz com que a criança não possa ir à escola para não contagiar os colegas, mas não afeta sua capacidade de brincar e continuar sendo elétrica e agitada, como toda criança saudável. Não que exista alguma doença dessas comuns que seja capaz de deixar o João quieto. Bem, deve existir mas eu já vi algumas que deixariam outras crianças prostradas e que ao meu filho passaram incólumes nesse quesito.
      Hoje, numa linda tarde primaveril, ao som de chilreados passarinhais, pude acompanhá-lo no seu aprendizado de subir em árvore. E uma vez lá em cima, me encantei com seu assombro ao ver tudo de um ângulo diferente. É um aprendizado essencial a qualquer criança, e que infelizmente está em baixa. Não existem mais quintais, não existem mais árvores em quintais e raramente encontra-se uma criança que tenha um quintal ou uma árvore à sua disposição.
      Em tempos de eleições proponho a todos os políticos de todos os partidos uma lei revolucionária. Proponho que se torne obrigatório que toda criança tenha a seu dispor uma árvore para subir. De preferência frutífera. E com passarinho cantando por perto. E que todas as tardes primaveris sejam ensolaradas e de clima agradável, para que eu e o João, e outros pais e filhos, possamos nelas subir, aproveitar da sombra de suas folhas e dos balanços amarrados nos seus galhos.

domingo, 23 de setembro de 2012

(E)Stroboscópio

      Simplicidade. Este é o lema que deveria nortear o nosso dia a dia. Só que ser simples nem sempre é tão simples assim. Tem gente (como eu...) que dá voltas e voltas pra dizer uma coisa que uma palavra resolveria. É preciso leveza, sutileza e um pouco de inteligência pra isso. Desses requisitos, praticamente não tenho dois e falho um pouco no outro. Por isso demorei um pouco a chegar à conclusão do nome do blog.
      Para quem não conhece, estroboscópio é uma lâmpada muito forte que pisca rapidamente, dando flashes seguidos, mostrando pequenas frações da realidade a intervalos regulares. É, portanto, a tradução mais simples possível do primeiro nome deste blog.
     Fui apresentado ao estroboscópio (a lâmpada) numa aula experimental de física no primeiro ano do Colégio Técnico. Numa primeira experiência usamos tal instrumento para fotografar uma bola de pingue pongue em queda livre. Na segunda experiência, bem parecida, usamos a bola em deslocamento sobre uma superfície, e depois caindo também em queda livre. Cálculos feitos, pôde-se averiguar que a aceleração da gravidade realmente é a que prega a física. O detalhe é que, graças ao estroboscópio pudemos fazer várias exposições na mesma foto, mostrando a bola em diversas posições ao longo de sua trajetória.   Mas acho que já estou complicando demais.
      Como a minha ideia é falar de coisas simples pinçadas do dia a dia, creio que a definição esteja corretíssima. Apenas fica um pouco mas fácil e bem definido dessa forma.

sábado, 22 de setembro de 2012

Comentário sobre os comentários alheios

     O ser humano tem uma necessidade intrínseca à sua própria existência, e que passou desapercebida por muito tempo. Até a chegada da internet e, mais recentemente, das redes sociais. O ser humano precisa se expressar. Dizem que é sábio ouvir mais que falar, mas a maioria fala muito. Me incluo nesse grupo dos faladores. Bom, recentemente entrei pro grupo dos escrevedores, que é justamente pra ver se consigo moderar um pouco essa ânsia de abrir a boca e falar bobagem. Acabo escrevendo bobagens maiores ainda, como essa que aqui vai.
      No entanto o bom escutador, ou leitor no caso, consegue reparar uma coisa interessantíssima que é a falta do que falar. Nas redes sociais os assuntos se repetem numa quantidade absurda, besteirois circulam e dão a volta ao mundo num piscar de olhos. Aliás nem é preciso ser muito reparador pra perceber essas coisas. Exemplos claros, como aquela pessoa que posta uma foto muito bacana, ou nem tanto, de si mesma, aos quais se segue uma série de comentários. O livro-cara mostra apenas os últimos, precedidos da mensagem “exibir todos os 27 comentários.” O que é a curiosidade, aquela coisa maldita que faz girar o mundo e que matou o pobre gato! Verificando-se esses comentários percebe-se que são idênticos! Os tais vinte e sete comentários dizem apenas variações de “linda” e “tá linda”. Quanto muito um “gatona”. Poxa, se é pra escrever alguma coisa, então põe pelo menos um GOSTOSA lá. Variação. É preciso variação e diversidade. Pergunte onde foi a foto, como foi a viagem, se tava frio ou quente, se o povo local é bacana... Dá pra fazer uma enormidade de observações.
      KKKKKKK. Vinte e dois comentários de sequências da letra K, num simulacro de risada. Será que ninguém mais mija nas calças de rir, nem mesmo metaforicamente? Pra que escrever se não tem nada a acrescentar? Está certo, o ser humano tem a necessidade intrínseca de se expressar. Mas porra, será que é tão difícil pensar um pouco antes de escrever alguma coisa, mesmo que seja bobagem? Não sou contra falar ou escrever bobagem, muito pelo contrário, sou um grande falador e escrevedor de bobagens, e olhe que tenho o dom de falar pelos cotovelos. Por vezes chego perto de perder amigos por não perder a piada, que quase sempre é bem desprovida de graça.
      Reconheço que tenho andado meio amargo ultimamente, mas se comecei com meus escritos foi uma forma de descarregar um pouco disso que me incomoda às vezes. Outro dia discorria sobre minhas desvirtudes (ouvi certa vez da querida colega Carina que defeito é coisa de máquina) e essa é mais uma delas. Sou bem ranzinza. Como temo ver piorar isso com o tempo, ao invés de soltar a rabugência nas pessoas próximas, solto sobre os obstinados que, sabe-se lá por que motivo, resolvem ler meus escritos. Creio que não são muitos, nem minha mulher lê o que escrevo. Reclama que eu não escuto-a. Kkkkkk.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Máscaras

   Vou dizer aqui umas verdades. Preciso dizê-las. Não para machucar ninguém, a não ser talvez eu mesmo e meu desprezível ego. A grande verdade é que, acredite, eu tenho defeitos. Muitos defeitos. E máscaras para encobrir a maioria. Pretendo despir aqui e agora essas máscaras. A maioria das pessoas gosta ou admira outras pessoas, ou mesmo mantém relações de coleguismo ou conveniência devido às virtudes da outra pessoa. Mas sempre nos esquecemos que somos um poço fervente de problemas mal resolvidos e características pouco louváveis.
    Vivemos os tempos da rede social. Reproduzimos na rede, obviamente de forma ampliada, a nossa rede de relacionamentos reais. A diferença é que, tanto online quanto ao vivo, sempre buscamos nos pintar, nos cobrir de virtudes. Nas redes sociais todo mundo é bonito, politicamente correto, todos gostam de plantas e animais, todos respeitamos ao próximo. Sempre estamos alegres, somos felizes e temos a vida mais invejável do mundo.  Buscamos a melhor foto, do melhor ângulo e com o melhor sorriso para estampar nossos perfis virtuais como buscamos a melhor roupa para ir numa festa.
    Porém todo mundo tem um lado feio. Mesquinho. Aproveitador. Pouco louvável, tenha o nome que for. De minha parte, sou preguiçoso. Busco o caminho mais fácil para a maioria das coisas, principalmente as de longo prazo. Talvez por isso não terminei nenhuma das quatro faculdades que comecei. Procuro não sair muito da minha zona de conforto, evito desafios reais, literalmente fujo de briga. Como já fugia desde pequeno, quando sofria zoação de qualqer tipo que me ofendia. Provavelmente por isso desenvolvi um lado sorridente, piadista e que tira sarro de tudo, inclusive de minhas próprias desgraças. Talvez se tivesse dado uns tabefes no babaca filho da puta que soltava sempre um "puta que pariu, mas que cabeção" quando eu passava vindo da escola, eu tivesse resolvido essas coisas de maneira muito mais definitiva. Muito provavelmente eu teria apanhado feio, mas as coisas seriam com certeza diferentes. Não sei em que sentido, mas seriam.
    Você, que gosta de mim ou me admira por algum motivo, ou simplesmente convive comigo porque não tem outro jeito, saiba que sou um crápula, cafajeste, aproveitador, preguiçoso, acomodado, puxa saco e rabujento. Não espere grande coisa de mim. Deve haver mais qualificações negativas  por aí, não perdi meu tempo analisando todas. Mas afinal quem não é tudo isso que eu acabei de escrever? Quem não tem um pouquinho que seja disso tudo, em maior ou menor grau? A diferença é que todos, sem exceção, costumam ocultar essas verdades. Não pretendo fazer isso mais. Vou manter esse escrito como uma forma de apresentação, mesmo porque não pretendo fazer a análise novamente.
    Aos meus amigos, caso ainda queiram minha amizade, vocês continuam tendo-a. Não mudei nada, a não ser pela máscara retirada. Continuo o mesmo, porém advirto que não esperem por nada muito diferente. Aliás, não espere muito de ninguém. Quem espera pouco se surpreende, quem espera muito se decepciona. E um dia todas as máscaras caem.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Acendendo a luz

    Vivo tendo idéias. Algumas boas, outras estranhas, estapafúrdias, cabeludas, de jerico ou até ruins mesmo. De vez em quando puxo do meu papel virtual e discorro sobre algumas delas. Até aí tudo bem. Só que o que está ficando chato é essa mania que meu papel virtual pegou de querer tirar o acento das minhas idéias.
    Reformas ortográficas à parte, sou uma pessoa que conviveu muito tempo com as idéias acentuadas. "Ah, mas o acento de idéia caiu", diriam os gramáticos. Não das minhas. Contrui um forte ao redor delas, com direito a fosso com jacaré dentro e tudo mais, e estamos resistindo. Não caímos ainda, eu e o acento das minhas idéias. Não enquanto nossa cidadela resistir.
    Como é que pode uma máquina estúpida (por mais inteligente que seja ainda é uma máquina estúpida, pois só faz o que lhe é mandado fazer) querer saber mais do que eu, que falo e escrevo a língua a tanto tempo? Falo errado e escrevo mal? Problema meu, a língua é minha, o falar e o escrever são meus. Se a conversa é ruim e o escrito falho, não é meu computador que tem que ficar tolhendo os meus sotaques e minhas idéias. O importante é o entendimento do interlocutor. Caso este não entenda, pouco lhe faço caso então.
    Tudo bem, uma ajuda sempre é válida e ter à mão um corretor ortográfico e um pai dos burros sempre vem a calhar. O problema é quando a ajuda começa e se tornar intromissão. Estou pensando seriamente em voltar para o par papel-caneta ou procurar uma máquina de escrever das antigas. Uma vez um colega, pra tirar sarro de outro que cometeu gafe ortográfica numa prova de faculdade, disse exatamente: "professora, o Mauro sai escrevendo e, se não aparecer um risquinho vermelho embaixo, tá certo." Eu já cheguei no ponto de ignorar o risquinho vermelho. Não que me considere um ás da língua. Muito pelo contrário. Mas não é nada confortável ter que mudar de idéia (ou de ideia) porque alguém resolveu que ela não mais se acentuaria. Ou aguentar uma máquina te lembrando a toda hora que você tá errado, que sua escrita tá ultrapassada e não é assim mais.
    Pois que seja então. Eis que as minhas idéias, ou quaisquer outras por boas ou más que sejam, devem tomar acento. Posto que luminosa, uma ideia precisa comer muito angu para se tornar uma idéia. Assim como o almoço de D. Jandira merece um descanso para que a comida tome assento, uma boa idéia precisa tomar acento para que se justifique.
    E uma cachacinha antes, que é pra iluminar o pensamento.

Divagações sobre folhas e filhos

    Na frente da minha casa, no inicinho do meu quintal, tem uma árvore da qual não sei o nome, espécie ou qualquer outra coisa a não ser que no verão ela me dá uma sombra muito da boa, que durante quase o ano todo ela solta uns frutos cuja única serventia aparente é sujar o meu quintal e que no outono e no inverno perde todas as suas folhas, num volume impressionante. Ou seja, meu quintal está quase sempre atulhado com folhas e sementes da tal árvore. A limpeza feita não dura mais que um dia, e como meu tempo é coisa escassa e minha preguiça abundante, o sábado tem sempre uma parte reservada à limpeza das ditas folhas e frutos, dentre outras coisas.
    Dia vai, semana vem, estações se sucedem e climas mudam, acontece que agora bem no meio do inverno a minha querida árvore, que tem amarrado em um dos seus galhos um balanço feito por mim mesmo para meu filho de três anos, ostenta há algum tempo apenas três bravas folhas secas e nenhuma semente. Ao contrário de nós, friorentos humanos, ela se despe em pleno inverno catarinense, num ritual que se repete de preparação para sua majestosidade primaveril.
    Bem vindas sejam, frutos e folhas que me fornecerão sombra e beleza ao quintal, e que em breve me arrancarão novamente pragas ocasionais, esquecido que estarei do ritual de renovação que ela me permitiu assistir de camarote e do qual participei discretamente juntando mal humorado seus despojos. Bem vinda seja, sombra benéfica, para quando no verão sufocante for passar momentos deleitosos com o pequeno grande João sob seus galhos, na divertida tarefa de empurrar e se balançar.
    Sejamos como as árvores, aproveitemos o inverno ocasional de nossos corações e mentes para renascermos completamente na primavera, cientes do deleite e do trabalho que com ela virão.

Elucubrações de escritor de texto único

    Pois é, parece que a coisa é meio viciante. Escrevi um textozinho pra satisfazer uma vontade repentina de por em palavras umas idéias meio cabeludas que me apareceram outro dia. O problema é que publiquei ele, botei lá na internet pra todo mundo ver. E aí agora fico me coçando a toda hora, querendo ter alguma outra idéia pra escrever de novo, e principalmente, mostrar pra todo mundo. Nunca foi tão fácil publicar, então publiquemos.
    O problema é que, agora que estou afoito por deitar palavras ao papel (prefiro imaginar que tem papel na tela onde escrevo) parece que elas ficam brincando de esconde esconde comigo. É como se um carrossel de imagens, palavras e idéias ficasse girando na minha frente, a cada momento mostrando uma faceta nova e escondendo a antiga, se revezando e me deixando com sensação de frustração.
    Mas não me deixo abater tão fácil. Persigo as idéias como se estivesse tateando no escuro, e lá estão elas, mesmo que não consiga ter uma noção nítida das coisas. Ligo o computador e não me faço de rogado, vou puxando o fio e desfiando o que quer que as idéias tenham sido pra fazer esse novelo de estranhozidades que vou aqui largando. Onde isso vai parar? Não faço a mínima idéia, só sei que está sendo muito bom. Se é um vício, por favor, me deixe com ele.

Idiossincrasias assintomáticas

    Pois é. Essas palavras me apareceram hoje, na hora do banho, e não saíram da minha cabeça. Não que fosse a primeira vez, elas já andaram me cutucando algumas vezes, só que dessa vez elas ficaram grudadas. E o mais interessante é que eu não fazia a menor idéia do que isso poderia significar. Bom, assintomático eu sabia o que era. Restava-me consultar o pai dos burros.
    Enquanto terminava o banho e ruminava sobre a estranha sonoridade desse par, fiquei imaginando um possível bom uso para ele. Nome para banda de rock, pensei. Não. Não daria certo. Seria uma banda meio chinfrim, Sepultura é um nome bem mais visceral. Mais rock´n roll mesmo. Afinal o nome pra uma banda é meio caminho andado pro sucesso. Imagine se os Beatles tivessem esse nome, como que seria? Aì me ocorreu. Peça de teatro. E de humor, melhor ainda. Porque peça de teatro costuma ter os nomes mais estapafúrdios que se possa imaginar. E a junção de estapafúrdio (outra palavra excelente, sinta o som dela... o poder que advém disso...) com boa sonoridade vem sendo bastante explorado ultimamente. Mas logo desisti também, afinal se não toco guitarra também não represento. E mal escrevo umas ou outras linhas. Nome pra remédio? Se fosse bom já teria sido usado. A criatividade da nossa indústria farmacêutica pra inventar nomes é quase insuperável.
    Já fora do chuveiro, seco e vestido, consigo acessar o dicionário na internet. E vejo, pra minha grata surpresa, que as minhas idiossincrasias podem ser tudo, menos assintomáticas. Estão mais para coisas da idade.