terça-feira, 13 de maio de 2014

Gaveta de meias



Faz algum tempo eu descobri que gosto de escrever. Adorei a ideia, pus meu papel virtual para trabalhar a toda, criei um blogue e disparei alguns ensaios e rascunhos de crônicas internet afora, à procura de espaço e leitores para minhas palavras. Fez bem pra minha cabeça e pro meu ego.          
                Acontece que, de uns tempos pra cá, aquele ímpeto inicial se desfez e o (E)Stroboscópio já não produz seus flashes. Sim, o blogue tem esse nome porque sempre procurei escrever sobre pequenos apanhados do dia a dia, sem compromisso, e a princípio, sem correlação uns com os outros. Um dos problemas é que me acostumei a escrever sempre no computador, onde me sinto confortável, mas ele não me acompanha durante o dia. Justamente quando tenho meus momentos de inspiração.
                Tal fato inclusive me lembrou um cronista que li muito na juventude, se não me engano o Roberto Drummond, mineiro radicado no Rio. Em uma de suas crônicas ele diz que suas caminhadas à beira mar são fonte de inspiração, só que basta chegar em casa que a mente fica limpa novamente e as ideias não são postas no papel. Chega a pensar em carregar a máquina de escrever pendurada ao pescoço durante suas caminhadas.
                Digo isso não para me comparar ao cronista, mas para dizer que sofro do mesmo mal. Os tempos são outros, já não se usa mais a máquina de escrever, até mesmo o computador já não se usa tanto. Mas não sou adepto do tablet nem do smartphone, não me adaptei bem com esse negócio de ficar esfregando os dedos. Já tentei gravar no celular o que me vinha na mente, ao invés de digitar no computador, como faço normalmente. Mas o negócio me pareceu bastante estranho no momento em que resolvi fazer a primeira mudança. Digitando basta apagar um trecho e escrever de novo, já ditando ao gravador fica bem esquisito.
                 De tanto que me acostumei a escrever no meu chamado papel virtual já sinto uma dificuldade estranha em manuscrever. Fiquei tanto tempo afastado do par papel-caneta que desaprendi, perdi completamente a prática, dói-me a mão e acabo produzindo um apanhado de rabiscos, na vã tentativa de editar o texto no mesmo momento em que o produzo.
                Mas tudo se resolve. Ainda pretendo prosseguir com meus flashes. Princípios de textos e temas de crônicas eu tenho aos montes, guardados todos na mente. O que atrapalha é que os meus compartimentos mentais são tão ou mais bagunçadas que minha gaveta de meias. Dá uma preguiça de arrumar...