quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Árvores, quintais e conjuntivites

      Graças a uma conjuntivite estou sendo obrigado a passar uma semana em casa acompanhando meu filho, o pequeno grande João. Uma doença besta, que faz com que a criança não possa ir à escola para não contagiar os colegas, mas não afeta sua capacidade de brincar e continuar sendo elétrica e agitada, como toda criança saudável. Não que exista alguma doença dessas comuns que seja capaz de deixar o João quieto. Bem, deve existir mas eu já vi algumas que deixariam outras crianças prostradas e que ao meu filho passaram incólumes nesse quesito.
      Hoje, numa linda tarde primaveril, ao som de chilreados passarinhais, pude acompanhá-lo no seu aprendizado de subir em árvore. E uma vez lá em cima, me encantei com seu assombro ao ver tudo de um ângulo diferente. É um aprendizado essencial a qualquer criança, e que infelizmente está em baixa. Não existem mais quintais, não existem mais árvores em quintais e raramente encontra-se uma criança que tenha um quintal ou uma árvore à sua disposição.
      Em tempos de eleições proponho a todos os políticos de todos os partidos uma lei revolucionária. Proponho que se torne obrigatório que toda criança tenha a seu dispor uma árvore para subir. De preferência frutífera. E com passarinho cantando por perto. E que todas as tardes primaveris sejam ensolaradas e de clima agradável, para que eu e o João, e outros pais e filhos, possamos nelas subir, aproveitar da sombra de suas folhas e dos balanços amarrados nos seus galhos.

domingo, 23 de setembro de 2012

(E)Stroboscópio

      Simplicidade. Este é o lema que deveria nortear o nosso dia a dia. Só que ser simples nem sempre é tão simples assim. Tem gente (como eu...) que dá voltas e voltas pra dizer uma coisa que uma palavra resolveria. É preciso leveza, sutileza e um pouco de inteligência pra isso. Desses requisitos, praticamente não tenho dois e falho um pouco no outro. Por isso demorei um pouco a chegar à conclusão do nome do blog.
      Para quem não conhece, estroboscópio é uma lâmpada muito forte que pisca rapidamente, dando flashes seguidos, mostrando pequenas frações da realidade a intervalos regulares. É, portanto, a tradução mais simples possível do primeiro nome deste blog.
     Fui apresentado ao estroboscópio (a lâmpada) numa aula experimental de física no primeiro ano do Colégio Técnico. Numa primeira experiência usamos tal instrumento para fotografar uma bola de pingue pongue em queda livre. Na segunda experiência, bem parecida, usamos a bola em deslocamento sobre uma superfície, e depois caindo também em queda livre. Cálculos feitos, pôde-se averiguar que a aceleração da gravidade realmente é a que prega a física. O detalhe é que, graças ao estroboscópio pudemos fazer várias exposições na mesma foto, mostrando a bola em diversas posições ao longo de sua trajetória.   Mas acho que já estou complicando demais.
      Como a minha ideia é falar de coisas simples pinçadas do dia a dia, creio que a definição esteja corretíssima. Apenas fica um pouco mas fácil e bem definido dessa forma.

sábado, 22 de setembro de 2012

Comentário sobre os comentários alheios

     O ser humano tem uma necessidade intrínseca à sua própria existência, e que passou desapercebida por muito tempo. Até a chegada da internet e, mais recentemente, das redes sociais. O ser humano precisa se expressar. Dizem que é sábio ouvir mais que falar, mas a maioria fala muito. Me incluo nesse grupo dos faladores. Bom, recentemente entrei pro grupo dos escrevedores, que é justamente pra ver se consigo moderar um pouco essa ânsia de abrir a boca e falar bobagem. Acabo escrevendo bobagens maiores ainda, como essa que aqui vai.
      No entanto o bom escutador, ou leitor no caso, consegue reparar uma coisa interessantíssima que é a falta do que falar. Nas redes sociais os assuntos se repetem numa quantidade absurda, besteirois circulam e dão a volta ao mundo num piscar de olhos. Aliás nem é preciso ser muito reparador pra perceber essas coisas. Exemplos claros, como aquela pessoa que posta uma foto muito bacana, ou nem tanto, de si mesma, aos quais se segue uma série de comentários. O livro-cara mostra apenas os últimos, precedidos da mensagem “exibir todos os 27 comentários.” O que é a curiosidade, aquela coisa maldita que faz girar o mundo e que matou o pobre gato! Verificando-se esses comentários percebe-se que são idênticos! Os tais vinte e sete comentários dizem apenas variações de “linda” e “tá linda”. Quanto muito um “gatona”. Poxa, se é pra escrever alguma coisa, então põe pelo menos um GOSTOSA lá. Variação. É preciso variação e diversidade. Pergunte onde foi a foto, como foi a viagem, se tava frio ou quente, se o povo local é bacana... Dá pra fazer uma enormidade de observações.
      KKKKKKK. Vinte e dois comentários de sequências da letra K, num simulacro de risada. Será que ninguém mais mija nas calças de rir, nem mesmo metaforicamente? Pra que escrever se não tem nada a acrescentar? Está certo, o ser humano tem a necessidade intrínseca de se expressar. Mas porra, será que é tão difícil pensar um pouco antes de escrever alguma coisa, mesmo que seja bobagem? Não sou contra falar ou escrever bobagem, muito pelo contrário, sou um grande falador e escrevedor de bobagens, e olhe que tenho o dom de falar pelos cotovelos. Por vezes chego perto de perder amigos por não perder a piada, que quase sempre é bem desprovida de graça.
      Reconheço que tenho andado meio amargo ultimamente, mas se comecei com meus escritos foi uma forma de descarregar um pouco disso que me incomoda às vezes. Outro dia discorria sobre minhas desvirtudes (ouvi certa vez da querida colega Carina que defeito é coisa de máquina) e essa é mais uma delas. Sou bem ranzinza. Como temo ver piorar isso com o tempo, ao invés de soltar a rabugência nas pessoas próximas, solto sobre os obstinados que, sabe-se lá por que motivo, resolvem ler meus escritos. Creio que não são muitos, nem minha mulher lê o que escrevo. Reclama que eu não escuto-a. Kkkkkk.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Máscaras

   Vou dizer aqui umas verdades. Preciso dizê-las. Não para machucar ninguém, a não ser talvez eu mesmo e meu desprezível ego. A grande verdade é que, acredite, eu tenho defeitos. Muitos defeitos. E máscaras para encobrir a maioria. Pretendo despir aqui e agora essas máscaras. A maioria das pessoas gosta ou admira outras pessoas, ou mesmo mantém relações de coleguismo ou conveniência devido às virtudes da outra pessoa. Mas sempre nos esquecemos que somos um poço fervente de problemas mal resolvidos e características pouco louváveis.
    Vivemos os tempos da rede social. Reproduzimos na rede, obviamente de forma ampliada, a nossa rede de relacionamentos reais. A diferença é que, tanto online quanto ao vivo, sempre buscamos nos pintar, nos cobrir de virtudes. Nas redes sociais todo mundo é bonito, politicamente correto, todos gostam de plantas e animais, todos respeitamos ao próximo. Sempre estamos alegres, somos felizes e temos a vida mais invejável do mundo.  Buscamos a melhor foto, do melhor ângulo e com o melhor sorriso para estampar nossos perfis virtuais como buscamos a melhor roupa para ir numa festa.
    Porém todo mundo tem um lado feio. Mesquinho. Aproveitador. Pouco louvável, tenha o nome que for. De minha parte, sou preguiçoso. Busco o caminho mais fácil para a maioria das coisas, principalmente as de longo prazo. Talvez por isso não terminei nenhuma das quatro faculdades que comecei. Procuro não sair muito da minha zona de conforto, evito desafios reais, literalmente fujo de briga. Como já fugia desde pequeno, quando sofria zoação de qualqer tipo que me ofendia. Provavelmente por isso desenvolvi um lado sorridente, piadista e que tira sarro de tudo, inclusive de minhas próprias desgraças. Talvez se tivesse dado uns tabefes no babaca filho da puta que soltava sempre um "puta que pariu, mas que cabeção" quando eu passava vindo da escola, eu tivesse resolvido essas coisas de maneira muito mais definitiva. Muito provavelmente eu teria apanhado feio, mas as coisas seriam com certeza diferentes. Não sei em que sentido, mas seriam.
    Você, que gosta de mim ou me admira por algum motivo, ou simplesmente convive comigo porque não tem outro jeito, saiba que sou um crápula, cafajeste, aproveitador, preguiçoso, acomodado, puxa saco e rabujento. Não espere grande coisa de mim. Deve haver mais qualificações negativas  por aí, não perdi meu tempo analisando todas. Mas afinal quem não é tudo isso que eu acabei de escrever? Quem não tem um pouquinho que seja disso tudo, em maior ou menor grau? A diferença é que todos, sem exceção, costumam ocultar essas verdades. Não pretendo fazer isso mais. Vou manter esse escrito como uma forma de apresentação, mesmo porque não pretendo fazer a análise novamente.
    Aos meus amigos, caso ainda queiram minha amizade, vocês continuam tendo-a. Não mudei nada, a não ser pela máscara retirada. Continuo o mesmo, porém advirto que não esperem por nada muito diferente. Aliás, não espere muito de ninguém. Quem espera pouco se surpreende, quem espera muito se decepciona. E um dia todas as máscaras caem.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Acendendo a luz

    Vivo tendo idéias. Algumas boas, outras estranhas, estapafúrdias, cabeludas, de jerico ou até ruins mesmo. De vez em quando puxo do meu papel virtual e discorro sobre algumas delas. Até aí tudo bem. Só que o que está ficando chato é essa mania que meu papel virtual pegou de querer tirar o acento das minhas idéias.
    Reformas ortográficas à parte, sou uma pessoa que conviveu muito tempo com as idéias acentuadas. "Ah, mas o acento de idéia caiu", diriam os gramáticos. Não das minhas. Contrui um forte ao redor delas, com direito a fosso com jacaré dentro e tudo mais, e estamos resistindo. Não caímos ainda, eu e o acento das minhas idéias. Não enquanto nossa cidadela resistir.
    Como é que pode uma máquina estúpida (por mais inteligente que seja ainda é uma máquina estúpida, pois só faz o que lhe é mandado fazer) querer saber mais do que eu, que falo e escrevo a língua a tanto tempo? Falo errado e escrevo mal? Problema meu, a língua é minha, o falar e o escrever são meus. Se a conversa é ruim e o escrito falho, não é meu computador que tem que ficar tolhendo os meus sotaques e minhas idéias. O importante é o entendimento do interlocutor. Caso este não entenda, pouco lhe faço caso então.
    Tudo bem, uma ajuda sempre é válida e ter à mão um corretor ortográfico e um pai dos burros sempre vem a calhar. O problema é quando a ajuda começa e se tornar intromissão. Estou pensando seriamente em voltar para o par papel-caneta ou procurar uma máquina de escrever das antigas. Uma vez um colega, pra tirar sarro de outro que cometeu gafe ortográfica numa prova de faculdade, disse exatamente: "professora, o Mauro sai escrevendo e, se não aparecer um risquinho vermelho embaixo, tá certo." Eu já cheguei no ponto de ignorar o risquinho vermelho. Não que me considere um ás da língua. Muito pelo contrário. Mas não é nada confortável ter que mudar de idéia (ou de ideia) porque alguém resolveu que ela não mais se acentuaria. Ou aguentar uma máquina te lembrando a toda hora que você tá errado, que sua escrita tá ultrapassada e não é assim mais.
    Pois que seja então. Eis que as minhas idéias, ou quaisquer outras por boas ou más que sejam, devem tomar acento. Posto que luminosa, uma ideia precisa comer muito angu para se tornar uma idéia. Assim como o almoço de D. Jandira merece um descanso para que a comida tome assento, uma boa idéia precisa tomar acento para que se justifique.
    E uma cachacinha antes, que é pra iluminar o pensamento.

Divagações sobre folhas e filhos

    Na frente da minha casa, no inicinho do meu quintal, tem uma árvore da qual não sei o nome, espécie ou qualquer outra coisa a não ser que no verão ela me dá uma sombra muito da boa, que durante quase o ano todo ela solta uns frutos cuja única serventia aparente é sujar o meu quintal e que no outono e no inverno perde todas as suas folhas, num volume impressionante. Ou seja, meu quintal está quase sempre atulhado com folhas e sementes da tal árvore. A limpeza feita não dura mais que um dia, e como meu tempo é coisa escassa e minha preguiça abundante, o sábado tem sempre uma parte reservada à limpeza das ditas folhas e frutos, dentre outras coisas.
    Dia vai, semana vem, estações se sucedem e climas mudam, acontece que agora bem no meio do inverno a minha querida árvore, que tem amarrado em um dos seus galhos um balanço feito por mim mesmo para meu filho de três anos, ostenta há algum tempo apenas três bravas folhas secas e nenhuma semente. Ao contrário de nós, friorentos humanos, ela se despe em pleno inverno catarinense, num ritual que se repete de preparação para sua majestosidade primaveril.
    Bem vindas sejam, frutos e folhas que me fornecerão sombra e beleza ao quintal, e que em breve me arrancarão novamente pragas ocasionais, esquecido que estarei do ritual de renovação que ela me permitiu assistir de camarote e do qual participei discretamente juntando mal humorado seus despojos. Bem vinda seja, sombra benéfica, para quando no verão sufocante for passar momentos deleitosos com o pequeno grande João sob seus galhos, na divertida tarefa de empurrar e se balançar.
    Sejamos como as árvores, aproveitemos o inverno ocasional de nossos corações e mentes para renascermos completamente na primavera, cientes do deleite e do trabalho que com ela virão.

Elucubrações de escritor de texto único

    Pois é, parece que a coisa é meio viciante. Escrevi um textozinho pra satisfazer uma vontade repentina de por em palavras umas idéias meio cabeludas que me apareceram outro dia. O problema é que publiquei ele, botei lá na internet pra todo mundo ver. E aí agora fico me coçando a toda hora, querendo ter alguma outra idéia pra escrever de novo, e principalmente, mostrar pra todo mundo. Nunca foi tão fácil publicar, então publiquemos.
    O problema é que, agora que estou afoito por deitar palavras ao papel (prefiro imaginar que tem papel na tela onde escrevo) parece que elas ficam brincando de esconde esconde comigo. É como se um carrossel de imagens, palavras e idéias ficasse girando na minha frente, a cada momento mostrando uma faceta nova e escondendo a antiga, se revezando e me deixando com sensação de frustração.
    Mas não me deixo abater tão fácil. Persigo as idéias como se estivesse tateando no escuro, e lá estão elas, mesmo que não consiga ter uma noção nítida das coisas. Ligo o computador e não me faço de rogado, vou puxando o fio e desfiando o que quer que as idéias tenham sido pra fazer esse novelo de estranhozidades que vou aqui largando. Onde isso vai parar? Não faço a mínima idéia, só sei que está sendo muito bom. Se é um vício, por favor, me deixe com ele.

Idiossincrasias assintomáticas

    Pois é. Essas palavras me apareceram hoje, na hora do banho, e não saíram da minha cabeça. Não que fosse a primeira vez, elas já andaram me cutucando algumas vezes, só que dessa vez elas ficaram grudadas. E o mais interessante é que eu não fazia a menor idéia do que isso poderia significar. Bom, assintomático eu sabia o que era. Restava-me consultar o pai dos burros.
    Enquanto terminava o banho e ruminava sobre a estranha sonoridade desse par, fiquei imaginando um possível bom uso para ele. Nome para banda de rock, pensei. Não. Não daria certo. Seria uma banda meio chinfrim, Sepultura é um nome bem mais visceral. Mais rock´n roll mesmo. Afinal o nome pra uma banda é meio caminho andado pro sucesso. Imagine se os Beatles tivessem esse nome, como que seria? Aì me ocorreu. Peça de teatro. E de humor, melhor ainda. Porque peça de teatro costuma ter os nomes mais estapafúrdios que se possa imaginar. E a junção de estapafúrdio (outra palavra excelente, sinta o som dela... o poder que advém disso...) com boa sonoridade vem sendo bastante explorado ultimamente. Mas logo desisti também, afinal se não toco guitarra também não represento. E mal escrevo umas ou outras linhas. Nome pra remédio? Se fosse bom já teria sido usado. A criatividade da nossa indústria farmacêutica pra inventar nomes é quase insuperável.
    Já fora do chuveiro, seco e vestido, consigo acessar o dicionário na internet. E vejo, pra minha grata surpresa, que as minhas idiossincrasias podem ser tudo, menos assintomáticas. Estão mais para coisas da idade.