segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Divagações sobre folhas e filhos

    Na frente da minha casa, no inicinho do meu quintal, tem uma árvore da qual não sei o nome, espécie ou qualquer outra coisa a não ser que no verão ela me dá uma sombra muito da boa, que durante quase o ano todo ela solta uns frutos cuja única serventia aparente é sujar o meu quintal e que no outono e no inverno perde todas as suas folhas, num volume impressionante. Ou seja, meu quintal está quase sempre atulhado com folhas e sementes da tal árvore. A limpeza feita não dura mais que um dia, e como meu tempo é coisa escassa e minha preguiça abundante, o sábado tem sempre uma parte reservada à limpeza das ditas folhas e frutos, dentre outras coisas.
    Dia vai, semana vem, estações se sucedem e climas mudam, acontece que agora bem no meio do inverno a minha querida árvore, que tem amarrado em um dos seus galhos um balanço feito por mim mesmo para meu filho de três anos, ostenta há algum tempo apenas três bravas folhas secas e nenhuma semente. Ao contrário de nós, friorentos humanos, ela se despe em pleno inverno catarinense, num ritual que se repete de preparação para sua majestosidade primaveril.
    Bem vindas sejam, frutos e folhas que me fornecerão sombra e beleza ao quintal, e que em breve me arrancarão novamente pragas ocasionais, esquecido que estarei do ritual de renovação que ela me permitiu assistir de camarote e do qual participei discretamente juntando mal humorado seus despojos. Bem vinda seja, sombra benéfica, para quando no verão sufocante for passar momentos deleitosos com o pequeno grande João sob seus galhos, na divertida tarefa de empurrar e se balançar.
    Sejamos como as árvores, aproveitemos o inverno ocasional de nossos corações e mentes para renascermos completamente na primavera, cientes do deleite e do trabalho que com ela virão.

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